UOL Estilo Casa e Imóveis

09/04/2010 - 07h00

Como o arquiteto pode aproveitar melhor o espaço da casa?

  • Grandes panos de vidro são sempre soluções interessantes para dar uma sensação de amplitude: trazem o externo para dentro e aumentam os limites

    Grandes panos de vidro são sempre soluções interessantes para dar uma sensação de amplitude: trazem o externo para dentro e aumentam os limites

Como cliente, preocupe-se inicialmente com o programa de sua casa e nunca com a metragem. O momento para discutir o tamanho virá mais tarde. Às vezes as pessoas se preocupam tanto com a metragem, que acabam por construir casas muito grandes ou muito pequenas para as suas necessidades.

O que os arquitetos chamam de programa é o conjunto das necessidades do cliente (em termos de ambientes e equipamentos). Por exemplo: duas salas, sala de jantar, cozinha, três suítes, churrasqueira, piscina, jacuzzi, quarto de empregada, e assim por diante. Estes dados podem parecer banais, mas são essenciais para que o profissional entenda suas necessidades e consiga projetar algo que realmente venha ao encontro delas. O programa tende a ficar mais complexo com o andamento do trabalho, como por exemplo, a decisão sobre o tipo de aquecedor, ou mesmo o lugar onde ficarão todas as tomadas para os equipamentos que você possui ou venha a possuir. Isso é válido não apenas para uma casa, mas também para uma reforma, uma loja ou mesmo uma indústria. O bom profissional sempre perde muito tempo analisando e discutindo o programa com o cliente, pois ele sabe que o bom entendimento dessas necessidades é a pedra fundamental para alcançar um bom resultado no projeto.

Um grande profissional brasileiro, Oswaldo Bratke, tem um exemplo clássico dessa preocupação: algum tempo após sair da faculdade, no inicio do século 20, Bratke foi contratado por um matadouro e curtume de animais para projetar uma nova sede. Apesar do tema um tanto sensível, ele não teve dúvidas e passou o mês seguinte inteiro envolvido em todas as atividades do matadouro, entendendo seu funcionamento, para então desenvolver uma nova sede, que tinha como objetivo resultados melhores e maior conforto do que a sede original. O resultado, nem é preciso dizer, foi um grande sucesso.

Uma vez entendido o programa, o bom profissional vai passar a projetar sua casa. Não é preciso se preocupar em passar a área total da casa para ele de maneira muito específica, como “quero minha casa com 350m²”. Pode ser que seu programa caiba muito bem em 300m² ou menos, por exemplo, sem que a casa fique pequena. O mais importante é que o arquiteto tenha em mente as relações ergonômicas essenciais para que os espaços tenham seu potencial utilizado ao máximo. Ergonomia é a relação existente entre as medidas do corpo humano e o mundo ao redor, como por exemplo, o tamanho que uma cama tem de possuir. Ou o tamanho de uma mesa de jantar e o espaço ao redor, para alguém poder sentar e outra pessoa passar. São inúmeras as relações que existem em um projeto, e elas dão origem às dimensões dos espaços da obra. Não adianta ter uma sala enorme em que tudo fica perdido, ou uma sala tão pequena que não é possível organizar um ambiente corretamente. Quantas vezes você já não entrou num apartamento e a pessoa mostra a “sala”, e você pensa: ora, isso não passa de um pequeno quarto!

Áreas externas

Outro cuidado essencial que o arquiteto ou projetista deve tomar é em relação à implantação da construção no lote. A implantação da construção é importantíssima e é triste ver que muitas vezes esse aspecto tão fundamental é negligenciado. Alem de envolver questões de ventilação e insolação, é a implantação que vai gerar as áreas externas da sua casa, espaços tão importantes e utilizáveis em um país com o clima que tem o Brasil. Não há sentido algum em simplesmente aterrissar a residência no meio do lote, deixando um pequeno espaço na frente, espaços laterais que não servem para nada e um jardim de fundo que mal cabe uma piscina. Se feita com cuidado, a implantação pode criar, por exemplo, quartos que se abrem para um jardim, espaço nos fundos para um quintal super agradável, para onde as salas se abrem, e assim por diante.

Uma vez respeitadas as relações ergonômicas dos espaços e feita uma implantação cuidadosa no lote, o resultado, independente de opções estéticas, tende a ficar muito mais agradável e lógico.

Alem dessas questões primordiais, e que devem ser sempre exaustivamente perseguidas, o arquiteto pode usar muitos outros recursos para que a casa passe ao morador a sensação de ser ainda maior e mais espaçosa.

Grandes panos de vidro são sempre soluções interessantes para dar uma sensação de amplitude: trazem o externo para dentro e, se bem orientados, podem fazer com que o limite perceptível de sua casa seja o seu jardim ou, dependendo do local, uma bela vista. Se um pano grande de vidro abre para um jardim, uma boa iluminação pode valorizar esse jardim de forma que a sensação do limite da sua sala, por menor que ela seja, será o das árvores lá fora. Conviver harmoniosamente com o espaço externo, seja da rua, do visual de uma montanha ou de um jardim privativo, é algo que todo bom projeto deve buscar.

Detalhes que importam

Um bom projeto de luminotécnica, interno à construção, também tem a capacidade de realizar verdadeiros milagres na sensação de tamanho da casa. Uma iluminação bem feita em um pé direito alto, por exemplo, pode fazer com que a construção pareça muito espaçosa. Uma iluminação pontual, com luzes fraquinhas, pode dar um ar dramático e buscar revelar texturas e detalhes que de outra forma não seriam parte da sensação do dia a dia.

Materiais e cores também são variáveis que contribuem para ajudar ou atrapalhar muito a sensação de tamanho de um projeto; cores claras, por exemplo, com um material diferente estrategicamente instalado em determinada parede pode criar perspectiva, mudando completamente a sensação espacial do visitante. O tipo de piso ou a quantidade e o ritmo das divisões dele também modificam essas sensações.

O mobiliário é ainda outro item importante na obtenção dessas sensações. Um mobiliário contemporâneo, leve e etéreo? Uma mobília pesada de fazenda? Fica clara a diferença só de pensarmos nesses dois estilos.

Quando for iniciar o projeto de sua construção pense sempre, primeiro e cuidadosamente, no programa e, depois, na implantação. Sempre junto com o seu profissional. As centenas de outras variáveis que o arquiteto sugerir para desenvolver mais sensações são também questões interessantes e importantes, mas sempre virão a reboque das duas questões primordiais. O resultado de sua construção certamente será muito mais satisfatório!

Rodrigo Marcondes Ferraz

Fernando Forte e Rodrigo Marcondes Ferraz são arquitetos formados pela FAU-USP e sócios do escritório Forte Gimenes Marcondes Ferraz (www.fgmf.com.br)

Índice geral de artigos de arquitetura

Tire suas dúvidas - Arquitetura

Hospedagem: UOL Host